sexta-feira, 25 de setembro de 2009

HENRIQUE: O Seleiro e o Defensor

* João Avelino Neto

Ele, o companheiro da FADIR e das lides forenses, partiu um pouco antes do pleno alvorecer da Primavera. Talvez para vê-la desabrochar-se de uma visão celestial, contemplando no cerrado o pau d’arco de copa coberta de um véu canarinho de flores, deslizando mansamente sobre o chão, sob a espreita do veado campeiro, a esperar o sol se por e a lua surgir para experimentar o seu néctar, longe da espingarda do caçador impiedoso.

Conheci Henrique na FADIR, em 1976. Precisamente no dia do trote, ocorrido e vivenciado no velho prédio da Escola Normal, agora restaurado e reinaugurado com pompas de feito histórico pelos mesmos que o levou as ruínas. Fato registrado e perpetuado em fotografia, resgatada por Antonio Carlos Silva, grande amigo de Henrique, que emoldura o nosso espaço de trabalho.

Henrique era sertanejo de origem. Na fala. No trato. E no jeito. Foi seleiro, como “Turíbio Todo” de Guimarães Rosa. Mas não tinha papo e nem era papudo. Não duelou em vão. Deixou pisadas e rastos profundos no campo do trabalho e da vida. Sempre com eficiência, dedicação e ética.

Podia ter ficado mais tempo aqui. Todavia, a morte é uma realidade inexorável. É, talvez, a única certeza que existe.

Fernando Pessoa já cravou isso em verso:


“Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim”.

Não obstante o duro realismo do poema de Fernando Pessoa e a hipocrisia de muitos, é preciso, a cada ano, celebrar a primavera, suas flores e as pessoas que nos são gratas.

*João Avelino Neto é Advogado

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